terça-feira, 17 de abril de 2012

O Dilúvio Chinês e a Arca de Noé


No livro Gênesis do Velho Testamento, é mostrado que Deus decide fazer um enorme dilúvio, fazendo desaparecer tudo que havia sido criado até então. Porém, ordena à Noé, fazer uma arca de madeira, e abrigar, junto com sua família, um casal de cada espécie existente.

Mas qual a ligação de Noé com a China dos dias de hoje? 

  Na China com uma população enorme , o governo precisa gerar empregos urgente. Da mesma forma a população querendo melhorar de vida rapidamente, trabalha por salários muito baixos.
  Muitos dizem que estes salários não são considerados tão baixos para os Chineses. Apesar de que, ultimamente, movimentos sociais estão aparecendo por melhorias salariais.
Entretanto na comparação com os salários, encargos trabalhistas e benefícios, de outros países, este fato faz toda a diferença.

  A comparação internacional mostra, o custo da mão de obra industrial brasileira em 2010, estava em pouco mais de US$ 10 a hora, segundo números do Departamento de Trabalho dos EUA. É superior ao de emergentes como México (US$ 6,23) e China       (US$ 1,36 em 2008, um dado não totalmente comparável), mas inferior ao de países como EUA (US$ 34,74) e mesmo Coreia do Sul (US$ 16,62).

  Além disto no quesito, encargos trabalhistas, o Brasil levantou a taça. Com 32,4% do custo da mão de obra da  indústria, ganha de longe dos 21% nos Estados Unidos, 25% na Europa e imagine então dos mirrados 13% na China.

  Isto significa que em termos de custo de mão de obra, a China é praticamente 10 vezes menor que o Brasil e para comparação, algo como 30 vezes menor que nos Estados Unidos.
Imaginemos qual teria que ser a eficiência industrial para compensar esta excrescência.

 E nossas indústrias são sim, eficientes “da porta para dentro”, apesar de  comentários contrários de alguns economistas e comentaristas, que na verdade não possuem nenhuma experiência industrial.
  Em uma indústria intensiva de mão de obra, estes números chegam como um dilúvio.

 Do jeito que vão as coisas, a começar pelas indústrias que demandam muitos trabalhadores, uma a uma tende a desaparecer, até o momento que cheguemos no mesmo estágio que Estados Unidos, hoje com mais de 8% de desemprego, Espanha com 24 % (sendo que 50% dos que ingressam no mercado de trabalho desempregados) e por aí vai.
Todos estes países estão tentando a todo custo refazer sua indústria, principalmente de confecção, que é uma das mais intensivas de mão de obra, para voltar a gerar empregos.

E aí é que entra o Noé.



  Vamos precisar criar uma arca, para que durante o dilúvio, possamos preservar trabalhadores de todos os setores, para no futuro, podermos recriar nossas indústrias.

  Como disse hoje, meu grande amigo Oswaldo de Oliveira, um empresário de renomadas empresas do ramo têxtil e confecção, "O Brasil precisa de uma Salvaguarda Social e não somente de produtos industriais. Estamos importando, na realidade a precarização da mão de obra.

Depois de tantos anos, o trabalhador brasileiro, conseguiu benefícios que não se deve abrir mão. Temos que procurar melhorar ainda mais. Mas como fazer isto perante o dilúvio que já começou? Como fazer para que uma parte maior do custo da mão de obra chegue na mão do trabalhador?

  Dirão alguns que milhares de empregos serão criados na construção da Arca.

  Brasil, não vamos esperar a água “bater no nosso nariz”. Não vamos ficar dependentes da Arca de Noé.

Vamos arregaçar as mangas e manter nossas indústrias e nossos empregos.

5 comentários:

  1. Bela reflexão através de palavras precisas e bem afiadas, Ronald. E que esse tão anunciado dilúvio seja capaz de enxaguar a cabeça tacanha destes nossos famigerados governantes, que têm sua visão nublada a um palmo do próprio nariz. Parabéns! Seguem abaixo dois links de textos recentes que fiz. Abração!

    http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3617185


    http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3612757

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  2. Você tem toda a razão, não dá para competir a desigualdade de condições é gritante. Ontem uma empresa muito antiga do Setor me contou que perdeu mercado para o Peru, ou seja, o seu produto mesmo vendido no custo fica 40% acima da oferta daquele País. Por favor, me reserve um ingresso na arca.

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  3. Sempre terá lugar na arca para uma ilustre advogada como você, Dra. Maria Thereza. Mesmo no futuro, precisaremos de advogados.

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  4. Ronald sempre deixa claro que a proposta não é retirar direitos e conquistas de trabalhadores brasileiros. Mas, para competir, é preciso neutralizar essa diferença de outra maneira. Isto é, por meio de instrumentos que tragam maior competitividade, do tipo: a) crédito mais barato para investimento e giro; b) desoneração da folha; e c) menos obrigações acessórias. Porém, a solução mesmo, de verdade, para a competitividade só virá quando o governo viabilizar ao empresário brasileiro da confecção ser grande, com muito economia de escala. O Simples Diferenciado para setores intensivos em trabalho é uma proposta que não poderá cair no esquecimento. Vale lutar por ela.

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  5. É exatamente isto, Haroldo. Tem razão.
    Obrigado pela intervenção.

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